24 Novembro 2022
A última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas conhecida como COP27, que ocorreu recentemente em Sharm El-Sheikh (Egito), chegou a um acordo inovador para fornecer financiamento de “perdas e danos” para as nações mais pobres mais atingidas por desastres e reveses climáticos.
Várias dessas nações estão localizadas na África. Entre eles está o Benin, onde o aumento projetado da temperatura e das chuvas provavelmente aumentará os desafios já enfrentados pelos setores agrícola e florestal do país da África Ocidental. Também há temores de que o aumento acentuado projetado do nível do mar ameace negativamente as quase duas milhões de pessoas (17% da população) que vivem ao longo do litoral.
Nestor Bidossessi Attomatoun é um deles. Padre da Comunidade Emmanuel da diocese costeira de Porto Novo, é o fundador do “Projeto Laudato Si'”, que promove a ecologia integral no Benin. Nesta entrevista, ele fala sobre os desafios ambientais enfrentados pelo continente africano.
A entrevista é de Lucie Sarr, publicada por La Croix International, 22-11-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Na sua opinião, quais são as emergências climáticas na África?
Na África, embora existam prioridades em termos de ação para combater o aquecimento global, tudo parece urgente no que diz respeito às repercussões nas cidades.
No entanto, recapitulemos aqui a lista de emergências apontadas pela encíclica Laudato Si' e transmitidas pelas diversas conferências episcopais da África, insistindo na busca da paz, que é a premissa de qualquer ação voltada para o desenvolvimento integral.
De fato, a urgência está em ouvir o clamor dos pobres: “Muitos pobres vivem em áreas particularmente afetadas por fenômenos relacionados ao aquecimento”. É isso que permite entender a denúncia do episcopado africano sobre os danos à biodiversidade.
É na resolução do problema relacionado com a biodiversidade que se encontra uma das soluções para a situação dos refugiados climáticos, que não é mencionada nas nossas reuniões internacionais. Não seria exagero incluir a questão dos migrantes climáticos entre as emergências, como indica o Papa Francisco na encíclica Laudato Si': “Eles não são reconhecidos pelas convenções internacionais como refugiados; eles carregam o fardo das vidas deixadas para trás, sem gozar de qualquer amparo legal”.
Além de todas essas questões urgentes, há o problema da busca pela paz. De fato, não pode haver solução real para os problemas ecológicos na África e no mundo sem o fim da guerra. Esta é a convicção do Papa João Paulo II, que afirmou que “qualquer forma de guerra à escala global causaria danos ecológicos incalculáveis”.
Qual é a melhor maneira de a Igreja aumentar a conscientização sobre ecologia?
Para ajudar a África a compreender os desafios climáticos atuais, é importante usar uma linguagem atenta à qualidade de vida desejada e almejada, enfatizando os efeitos das mudanças climáticas na vida cotidiana. Por exemplo, muitas pessoas reclamam da intensidade do calor ou das inundações em muitas partes da África, mas poucas associam isso às mudanças climáticas.
Ademais, a opção pela educação ambiental deveria ser uma das prioridades da conscientização sobre as mudanças climáticas na África. A ecologia deveria encontrar o seu lugar na educação em África. Será necessário repensar um itinerário pedagógico nas nossas estruturas escolares que nos permita despertar desde cedo nos jovens o reflexo ecológico para o bem da nossa casa comum. Para dar frutos, a sensibilização para as alterações climáticas deve ter em conta todas as idades, tendo como destinatários prioritários as crianças e os adolescentes, de forma a despertar neles o sentido de ecocidadania.
Também é maravilhoso notar que vários projetos pastorais levam em consideração os desafios ambientais, incentivando um estilo de vida favorável à preservação do meio ambiente. O que imediatamente vem à mente são todas as campanhas contra os sacos de plástico organizadas por associações nas paróquias e estruturas eclesiais.
Nos debates sobre a proteção da natureza, acrescenta-se a questão da justiça climática, notadamente promovida pela Igreja africana. Como deve ser entendido?
A questão da justiça climática tornou-se um dos temas favoritos de nossa missão como profeta e defensor dos pobres na África. Os bispos entenderam que não podem abordar os pobres sem abordar as estruturas que os criam. A crise ecológica é inseparável de seu aspecto social. Isso é o que justifica a defesa dos bispos pela justiça social.
Não há dúvida de que as mudanças climáticas estão atrasando o potencial de desenvolvimento na África, embora nosso continente contribua com apenas 3% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. Os grandes poluidores, como os Estados Unidos e a China, são os grandes responsáveis pela crise climática. Portanto, é justo que eles façam sua parte para remediar isso. Cabe a eles financiar a adaptação climática, perdas e danos, ajudando os países do “Sul Global” a alcançar níveis justos de desenvolvimento.
Também é importante notar que a injustiça climática está crescendo em relação às leis internacionais que restringem os países em desenvolvimento no uso de seus recursos naturais. Por exemplo, a maioria das normas relativas à exploração de água realizadas por alguns países africanos são influenciadas por normas internacionais, embora os problemas não sejam os mesmos.
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As mudanças climáticas estão bloqueando o desenvolvimento da África, diz especialista da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU